Cooperar no Leite

Dados da Aliança Cooperativa Internacional, no seu site na internet, indicam que pelo menos 12% da população mundial é membro de algum tipo das mais de 3 milhões de cooperativas que existem no mundo, hoje. Das 7,7 bilhões de pessoas, somos 924 milhões de cooperados! Se cada um dos cooperados tiver três dependentes, chega a quase 3 bilhões o número de pessoas com algum vínculo com cooperativas. Destes, 40 milhões são brasileiros, aproximadamente 20% da nossa população.

De acordo com o ex-Ministro da Agricultura, Professor Roberto Rodrigues, as pessoas se unem em cooperativas pela necessidade de serviços de interesse comum. Mas alerta que cooperativas bem-sucedidas se alicerçam em três condições: Primeira, que os participantes reconheçam a necessidade de se associarem para obter melhores serviços que garantam seu progresso social, ou econômico, ou ambos, que dificilmente conseguiriam obter individualmente. A segunda condição é ter viabilidade econômica, porque cooperativa é empresa, tem que buscar resultados econômicos para se sustentar. E a terceira condição, é que os participantes devem escolher sua liderança.

O Cooperativismo do leite brasileiro foi estudado numa parceria entre a Organização de Cooperativas do Brasil, OCB e a Embrapa Gado de Leite em duas ocasiões: inicialmente em 2002 e novamente a partir de 2015, com resultados divulgados em 2017.  Do último censo foi possível constatar que, no período de 2013 e 2015, o número de associados que entregavam leite nas cooperativas diminuiu em dez por cento, de pouco mais de 77 mil, para 70.483. Em Minas Gerais, por exemplo, no início dos anos 2000 existiam mais de 180 cooperativas de leite, que em geral buscavam soluções isoladamente, sem estratégias coletivas. Hoje, existem cerca de 80.

 

Apesar da drástica redução no número de cooperativas e de cooperados, o volume recebido pelas cooperativas em 2015 nas nossas maiores bacias leiteiras, foi de 23,4 milhões de litros de leite por dia; 47% desse volume proveniente da região Sul e 40% da região Sudeste.  A maior captação de leite reflete a tendência das propriedades leiteiras aumentarem sua escala de produção, mas também o maior profissionalismo das lideranças das cooperativas de leite, que por meio de gestão eficiente, focada em resultados, estão conseguindo atenuar os impactos dos custos elevados de insumos, da oscilação dos preços do leite e de lácteos, dentre outros resultados econômicos, desta forma garantindo ao produtor seu progresso social e econômico.

 

Além disso, as lideranças compromissadas com o sucesso das cooperativas estão viabilizando seu fortalecimento, ao se unirem em federações e à OCB, sem que cada cooperativa perca sua identidade. São “cooperativas de cooperativas”, que juntam o que cada uma tem de melhor, desta forma valorizando a colaboração, o uso eficiente das instalações e reduzindo custos, com resultados positivos para todos os seus cooperados.

 

Num balanço, os produtores de leite brasileiros têm mais exemplos de êxito econômico ao se organizarem em cooperativas do que trabalhando isoladamente.  Na repetição desse raciocínio, as cooperativas podem manter sua identidade e se congregar para formarem federações de cooperativas. Além de benefícios econômicos as cooperativas unificam a posição dos produtores em assuntos complexos como a importação e exportação de lácteos, barreiras sanitárias, rotulagem dos lácteos e tantos outros que vêm sendo tratados nesta coluna. E mais, podem explorar melhor os mercados e vender melhor seus produtos.

Unificando esforços e com instituições voltadas para as condições de sucesso do Professor Roberto Rodrigues, que também é Embaixador Especial para o Cooperativismo da ONU/FAO, os produtores de leite estarão solidamente representados para obter importantes conquistas para o segmento. Sejamos COOP!

Pedro Braga Arcuri
Pesquisador
Chefe Adjunto de Pesquisa Embrapa Gado de Leite

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