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 *Renato Andreotti


Sim, os animais podem desenvolver resistência contra vacinas, assim como já desenvolveram resistência a vários princípios ativos de carrapaticidas ou acaricidas, porém é mais difícil. Os produtos químicos, atualmente são os mais utilizados para controlar o carrapato-do-boi e merece atenção dos pecuaristas uma vez que, sem nenhum tipo de controle, o prejuízo é certo tanto em bovinos de corte como de leite.

Um dos principais problemas na utilização dos químicos ou acaricidas é a resistência dos carrapatos a estes produtos em pelo menos seis gerações deles. Ressalto que o uso desses acaricidas sem orientação técnica adequada ocorre em todo território nacional e gera prejuízos como aumento da contaminação nos animais, nos seus produtos, nos trabalhadores e no ambiente.

O uso da vacina como alternativa, ou associada a um controle integrado, tem sido desenvolvida com uma eficácia em torno de 50% no Brasil, mas os estudos continuam com vistas a aumentar esse índice.

É importante ressaltar que a tecnologia deve ser associada com controle de carrapatos nas pastagens, ao mesmo tempo levando-se em conta o valor adequado da dose no mercado, ancorados em uma política pública. O que estou querendo dizer é que, como o que foi pensado para aftosa, um programa semelhante poderia ser desenvolvido para o controle do carrapato e acredito que grande parte do problema seria resolvido ou amenizado.

Neste contexto, será que podemos ter a mesma situação de desenvolvimento de resistência dos carrapatos às vacinas como acontece com os acaricidas? Minha explicação é de que com as informações conhecidas hoje em dia, todo sistema biológico pode sofrer mutações. Nas situações mais simples, como no caso do vírus da gripe, temos um sistema de alta mutação em que todo ano é apresentada uma nova vacina para as variantes circulantes.

Com relação aos carrapatos, a situação é mais complexa e necessita de mais estudos. Lembramos que o alvo são os antígenos - proteínas com estruturas mais complexas do que os acaricidas - e, ao mesmo tempo, o genoma do carrapato do boi (Rhipicephalus microplus) que é duas vezes maior do que o genoma humano.

Realizamos pesquisas com esta espécie de carrapato nas diferentes regiões do Brasil mostrando que existe estabilidade filogenética na população. O que observamos é que o carrapato-do-boi possui ramificações dentro de uma mesma população devido a influência do fluxo de comercialização de bovinos.

Também estudamos a resposta imune das vacinas em bovinos e elas mostram uma identidade com o sistema imune nas diferentes regiões do mundo e que existe uma estabilidade para o antígeno da vacina, o que nos faz concluir que é possível obter uma vacina global efetiva contra esses carrapatos utilizando um único antígeno universal baseado no Bm86, por exemplo.

Mutações acontecem a todo momento, podendo impactar o controle do carrapato por meio de acaricidas, mas no caso das vacinas contra o carrapato é pouco provável de acontecer essas mutações e desenvolver resistência em curto prazo e por esse motivo estamos trabalhando na criação de uma vacina eficaz que venha atender o anseio não só dos produtores, mas de toda cadeia produtiva.

No momento temos o controle com base em uma ferramenta química que está se esgotando por conta da resistência do carrapato e o uso da vacina é um caminho potencial que precisa ser implementado logo para obter experiência dessa realidade. 

Para se ter ideia do rombo ocasionado pelo descontrole do carrapato, a estimativa de perda chega perto de 3,2 bilhões de dólares ao ano no país, o que é muito preocupante. O produtor ao investir em genética deve levar em consideração a importância de controlar o carrapato em raças sensíveis para transformar o potencial da genética em carne/leite e não em carrapato.


*Pesquisador da Embrapa Gado de Corte


Embrapa Gado de Corte


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