O tratamento imediato da mastite clínica é, atualmente, uma medida altamente recomendável, tanto do ponto de vista do bem estar e saúde da vaca, quanto da busca do retorno imediato da produção de leite e da redução de perdas econômicas resultantes da ocorrência da doença. Na realidade, o produtor praticamente se vê obrigado a tratar a vaca, pois o leite não pode ser comercializado, além de correr o risco de ter o agravante do caso e, como resultado, a vaca pode perder o quarto ou ter a sua capacidade produtiva seriamente comprometida. 

Não se pode usar o mesmo raciocínio acima para a decisão de tratar ou não casos de mastite subclínica em rebanhos leiteiros. Não custa lembrar que vacas que apresentam casos de mastite subclínica não apresentam quaisquer sintomas visíveis de alteração das características do leite ou do úbere, sendo que somente por métodos diagnósticos como o CMT (California Mastitis Test) ou a CCS (contagem de células somáticas) do leite, pode-se confirmar a ocorrência da forma subclínica. O leite de vacas com mastite subclínica pode ser consumido, ainda que, dependendo da prevalência da doença em nível de rebanho, exista a preocupação de descontos em termos de remuneração pela CCS do tanque.

Na busca de soluções rápidas para redução da ocorrência de mastite subclínica, alguns produtores podem tentar o tratamento dessas vacas durante a lactação, visando assim, não somente reduzir a CCS do tanque e melhorar o preço do leite, mas também diminuir o potencial de transmissão de agentes contagiosos entre as vacas. A recomendação de tratamento dos casos subclínicos ao longo da lactação, geralmente, só é indicada para a mastite causada por Streptococcus agalactiae, uma vez que esse agente, que é altamente contagioso e causa grande elevação de CCS, é muito sensível ao tratamento intramamário com antibióticos como as penicilinas e cefalsporinas. 

Contudo, para os demais agentes, em particular para o Stahylococcus aureus, a recomendação geral é de ser mais adequado e vantajoso o tratamento da mastite subclínica no momento da secagem, usando-se a terapia da vaca seca em todos os quartos.

Para avaliar o custo benefício do tratamento de mastite subclínica causada por S. aureus, foi desenvolvido um estudo na UNESP de Jaboticabal, que contou com a avaliação de 270 quartos mamários de um rebanho leiteiro ao longo de dois anos. Após uma avaliação dos quartos pelo CMT e do isolamento daqueles positivos para S. aureus, o quartos foram distribuídos em 4 diferentes grupos com relação ao estágio de lactação: grupo 1, formado por animais entre 10 e 60 dias da lactação e tratados contra mastite; grupo 2 composto por animais entre 61 dias da lactação e dois meses antes da secagem e tratados contra mastite; grupo 3 e 4, sendo formados por animais com as mesmas características em termos de estágio de lactação do grupo 1 e 2 , respectivamente, mas que não receberam o tratamento. Para os grupos 1 e 2, foi realizado o tratamento intramamário com 150 mg de gentamicina, por 3 dias consecutivos. 

Para avaliação da relação custo:benefício dos animais tratados, foram realizadas pesagens individuais da produção de leite de cada quarto mamário selecionado e do quarto contralateral sadio do mesmo animal durante duas ordenhas consecutivas (no momento do diagnóstico e 30 dias após a realização dos tratamentos), o que funcionaria como controle em termos de produção de leite. Para a realização dos cálculos foram considerados os custos do medicamento, o preço do leite, descarte do leite com resíduos, custos de mão-de obra de análises laboratoriais, assim como as receitas geradas pela produção de leite de cada grupo.

Os principais resultados de CCS e produção de leite de quartos estão apresentados na Tabela 1 e 2. Houve redução da CCS dos quartos após o tratamento, no entanto o tratamento da mastite subclínica realizado durante a lactação não foi capaz de determinar significativa elevação da produção de leite dos quartos tratados. Para os animais que receberam tratamento intramamário, as taxas de cura obtidas para os grupos 1 e 2 foram de 79% e 83,3%, respectivamente.

Tabela 1. Valores médios da contagem de células somáticas (CCS) de quartos mamários tratados e não tratados com gentamicina e quartos sadios.


Grupos 1 e 3: 10 a 60 dias pós-parto; grupos 2 e 4: início do terceiro mês pós-parto até dois meses antes da secagem.
* Diferenças significativas em relação aos quartos sadios (P<0,05); ns= não significativo (P>0,05).
Fonte: Zafalon, et al. 2007.

Tabela 2. Valores médios de produções lácteas de quartos mamários tratados/não tratados com gentamicina e quartos sadios.


(1) 10 a 60 dias pós-parto; (2) início do terceiro mês pós-parto até dois meses antes da secagem.
* Diferenças significativas em relação aos quartos sadios (P<0,05); ns= não significativo (P>0,05).

Fonte: Zafalon, et al. 2007.

Quando se considera os cálculo de custo:benefício do emprego do tratamento, as conclusões do estudo indicaram redução de 2% e 14% das receitas nos grupos 1 e 2, respectivamente, quando comparada com as receitas obtidas antes do tratamento, demonstrando que nas condições avaliadas, o tratamento da mastite subclínica causada por S. aureus, durante a lactação, não foi viável. 

Da mesma forma, o emprego do tratamento, mesmo com taxas de cura consideradas elevadas, não resultou em aumento da produção de leite em comparação com os quartos sadios, indicando assim que mesmo que o tratamento tenha reduzido a CCS e resultado em melhoria da qualidade do leite, não houve benefícios econômicos como o aumento de receitas para a propriedade avaliada.

Fonte:

ZAFALON, L.F., NADER FILHO, A., OLIVEIRA, J.V. et al. Mastite subclínica causada por Staphylococcus aureus: custo-benefício da antibioticoterapia de vacas em lactação. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., vol.59, no.3, p.577-585, 2007.

Para adicionar comentários, você deve ser membro de Rede de Pesquisa e Inovação em Leite.

Participe da Rede de Pesquisa e Inovação em Leite

Enviar-me um email quando as pessoas responderem –