Pessoal,

 

Um dos desafios que acredito que enfrentamos, da mesma forma que aqueles que trabalham na extensão rural, é o baixo índice ou não adoção de novas tecnologias, especialmente por pequenos produtores de leite. Considerando que a transferência de tecnologia é fundamental para o desenvolvimento da cadeia leiteira do país, e que a inovação só ocorre efetivamente quando uma nova prática é adotada e altera o ambiente produtivo, gostaria de saber a opinião de vocês sobre práticas de transferência de tecnologia e formas de avaliá-las, inserindo-as num processo dinâmico de avaliação de sua eficácia.

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Respostas

  • Complementando as palavras do Sérgio, uma ferramenta de comunicação muito utilizado pelas cooperativas agropecuárias, especialmente as de leite, é a OQS - Organização do Quadro Social, que pode ser um espaço de discussão acerca das tecnologias a serem adotadas pelos produtores. FUNCIONAMENTO DA OQS: A cooperativa envia para as reuniões dos grupos de interesses um técnico que é o responsável por articular e levar as demandas dos produtores junto à Cooperativa e também representá-la, apresentando suas necessidades para se manter no mercado agroindustrial. Assim, deve-se articular as diferentes demandas e interesses nesses diferentes níveis da organização.

    Numa pesquisa que realizei ano passado em uma grande cooperativa de leite, este espaço está sendo importante para a transferência de tecnologia, pois é a partir das reuniões que é dado os encaminhamentos de capacitação e adoção de tecnologia, voltando para as particularidades do grupo de cooperados. Por sua vez, a crítica está na ociosidade do técnico extensionista, que segundo os entrevistados ficam mais no escritório do que no campo.

    Como nas demais contribuições supracitadas, o importante é que conheçamos o que quer a comunidade e o que podemos contribuir diante de tal demanda ...

    Diego Sousa - TT (Embrapa Pesca e Aquicultura)

    SERGIO ELMAR BENDER disse:

    Olá pessoal!

    Acredito que as práticas de TT são variáveis em função de alguns fatores ( local, cultural, econômico, etc.). Realizei uma pesquisa em 1993, perguntando a um grupo de produtores de uma cooperativa, quais as formas que eles consideravam mais importantes para adotar uma nova tecnologia, e para " este grupo" a resposta foi "reuniões técnicas ( palestras) e visitas técnicas individuais". Após alguns anos de experiência na TT, acredito que atingimos o maior sucesso quando conseguimos despertar no produtor a necessidade de adotar uma mudança no seu sistema de produção. Se ele não tiver interesse em mudar ( aumentar produção, melhorar qualidade, aumentar seu ganho, etc.) não tem método que o faça adotar uma nova tecnologia. Temos que ter esta percepção quando nos colocamos na condição de "Transferidor de Tecnologias". 

    Já para avaliarmos a eficiência  de TT, creio que devemos voltar depois de algum tempo e ver se ele continua a utilizar aquela tecnologia, caso positivo, teremos a certeza que o produtor valorizou todo o trabalho ( pesquisa e TT).

    abraços

    Sergio

  • Boa tarde Fernanda Carolina

    A transferência de tecnologia (TT) é realmente o grande desafio dos Centros de Pesquisa, como a Embrapa. Recentemente nós do Núcleo de Apoio a Transferência de Tecnologia, Regional Centro-Oeste, avaliamos um método, bastante simples por sinal, de avaliação da capacitação.

    Este é denominado "SOMA" e seu autor e idealizador é o Dr Carlos Albuquerque, do Ministério da Agricultura (MAPA).

    Trata-se de um planejamento prévio, da capacitação, com a introdução de: um questionario de avaliação dos conhecimentos (antes) e um folder explicativo da tecnologia introduzida (linguagem, fácil e rápida), após a capacitação esse mesmo questionário é aplicado e calcula-se a eficiência do instrutor e a agregação de conhecimento.

    É um método que pode ser utilizado em qualquer ato de transferência, desde que adaptado.

    Bom! Vou encaminhar seu e-mail ao Dr Carlos

    Abraço

    Fernanda Mara

  • Olá pessoal!

    Acredito que as práticas de TT são variáveis em função de alguns fatores ( local, cultural, econômico, etc.). Realizei uma pesquisa em 1993, perguntando a um grupo de produtores de uma cooperativa, quais as formas que eles consideravam mais importantes para adotar uma nova tecnologia, e para " este grupo" a resposta foi "reuniões técnicas ( palestras) e visitas técnicas individuais". Após alguns anos de experiência na TT, acredito que atingimos o maior sucesso quando conseguimos despertar no produtor a necessidade de adotar uma mudança no seu sistema de produção. Se ele não tiver interesse em mudar ( aumentar produção, melhorar qualidade, aumentar seu ganho, etc.) não tem método que o faça adotar uma nova tecnologia. Temos que ter esta percepção quando nos colocamos na condição de "Transferidor de Tecnologias". 

    Já para avaliarmos a eficiência  de TT, creio que devemos voltar depois de algum tempo e ver se ele continua a utilizar aquela tecnologia, caso positivo, teremos a certeza que o produtor valorizou todo o trabalho ( pesquisa e TT).

    abraços

    Sergio

  • Oi Fernanda.

    Quando a tecnologia traz benefícios reais ao produtor rural, ele recebendo a assistência técnica e tendo confiança no profissional da extensão, o produtor passa a adotá-la com mais rapidez e eficiência. Vale ressaltar que os órgão de Extensão Rural como as Emateres são eficientes, o que necessita é que os governos as fortaleçam ainda mais, para abrangerem um maior número de produtores e com qualidade.

    Abraços

  • Pessoal,

     

    Muito obrigada pela participação de todos. Toda essa discussão é muito enriquecedora e melhora muito o nosso trabalho. É tanta reflexão que dá vontade de nos reunirmos só para discutir esse assunto!!!

     

    Pricila, Sérgio, Myriam e demais,

     

    Realmente ouvir o produtor é fundamental para o sucesso do nosso trabalho. Vejam só: conversando aqui em RO com técnicos extensionistas da Emater, e avaliando as nossas próprias unidades de observação, concluímos que menos de 25% das UO e UD implantadas dão continuidade ao trabalho, mesmo quando a escolha do produtor é feita com critérios no momento da seleção das propriedades. Esse dado me assustou, de início, pois nessas unidades gasta-se insumo, mão de obra, hora máquina, cerca, semente, hora homem, despesas com viagens... e apenas 25% dos produtores mantém e utiliza efetivamente o que foi implementado! Refleti sobre isso e pensei que esses produtores tiveram acesso à tecnologia, mas em momento algum foram indagados sobre a percepção deles em relação á essas tecnologias (cerca elétrica, pastejo rotacionado, uso de leguminosas, etc). Ou seja: quem percebeu a necessidade, mais uma vez, fomos nós, técnicos.

     

    Coloquei o exemplo acima apenas para exemplificar, mas acho que ele demonstra bem o que foi colocado pelos colegas acima. O Sérgio foi bem claro na analogia do quebra-cabeça: nós é que temos que nos encaixar no do produtor! A Myriam deu um exemplo bacana sobre a metodologia dos cursos da empresa que ela trabalhou, e isso me fez lembrar a experi~encias das Escolas Família Agrícola (EFA) aqui de Rondônia (1. e 2. graus): os alunos passam 15 dias estudando em regime integral, depois vão para suas casas aplicarem o que aprenderam, como um "dever de casa". E, conversando com o gestor dessa metodologia, um pedagogo ex-aluno de uma dessas EFA (estamos articulando um projeto  de TT em parceria com eles), ele disse que os resultados são surpreendentes.

     

    A proposta do Sérgio de avaliar quais tecnologias estão snedo adotadas pelos ex-alunos do programa de residência zooecnica, sob meu ponto de vista, é um exemplo a ser seguido. Talvez possamos utilizar o exemplo para obter feedback dos participantes dos noss treinamentos, etc., e também dos produtores de determinada região onde o treinamento foi realizado.

     

    A colocação do Luciano, finalizando, também foi provocativa: a continuidade do trabalho é fundamental. Sensibilizamos, mas estamos dando continuidade?

     

    Mais uma vez obrigada pelas colocações, e vamos continuar a reflexão!

     

  • O ponto central da discussão está nos últimos comentários. Nos da área técnica estamos olhando para o aspecto técnico e queremos avaliar como melhorar a TT quando a atividade agropecuária tem um componente social muito importante. Os problemas de transferência podem não estar na tecnologia ou na forma de transferir mas na mão de obra, insumos, sobrevivência do produtor na atividade. Dai chegamos com uma peça para o produtor montar o quebra-cabeças no lugar de entender o quebra-cabeças e adaptarmos nossa peça. Por isso estou com o projeto de avaliação da Residência zootécnica. Quero ouvir onde tecnologias não funcionam e até agora as razões são menos tecnológicas. Mas voltando ao assunto de avaliação das ferramentas, o jeito é depois de transferir voltar para quem ouviu/participou do evento de TT e ver o que estes estão fazendo. Requer alguma técnica para não chegar com uma postura de que é irracional não adotar, mas descobrir pessoas críticas, mostrar o lado ético/sigiloso de abordagens onde se deixa o entrevistado a vontade para expor sua opinião e então descobrirmos a efetividade da ferramenta. O que pode não ter nada a ver com a qualidade da ferramenta mas com a situação onde foi utilizada 
  • Olá Fernanda e demais participantes,

    lendo os comentários me lembrei de uma reunião que participei aqui em GO com profissionais da cadeia produtiva do leite e um colega fez a mesma colocação do Teófilo. Muitas vezes nós queremos melhorar a produção de leite do pequeno produtor mas ele não quer isso. Achamos que não está bom, mas na cabeça dele já melhorou muito porque antes nem leite ele tinha, agora ele tem leite que tira de uma vaca que é dele! Nesta reunião nós chegamos a conclusão que estamos fazendo planos e metas para pessoas que não foram questionadas se querem mesmo ou não aquela mudança para a vida delas. E concordamos com a necessidade de ouvir os produtores e "investir" naqueles que realmente querem aumentar a produção e crescer. Não é deixar o que não quer de lado mas sim deixar ele no seu tempo pois ele pode mudar de ideia ao ver que o vizinho está melhorando. Para finalizar, respondendo ao questionamento da Fernanda sobre como avaliar a eficácia das ferramentas de TT tenho que dizer que este é um assunto que está sendo discutido aqui também e o que todo mundo sabe é que é muito difícil! Inclusive é um dos assuntos de uma reunião da qual vou participar nas próximas semanas. Se eu tiver novidades, trago para vocês! 

     

    Abraços,

    Pricila

  • Olá Luciano e Teófilo,

     

    Muito obrigada pelos comentários! Muito bom poder receber experiências como a de vocês. Realmente, esse tema me intriga, e penso muito sobre isso, sobre a nossa missão enquanto transferidores de tecnologia e extensionistas.

     

    Concordo com o Luciano quando ele ressalta a importância da CONTINUIDADE do trabalho - esse, na minha opinião, é um fator crítico e fundamental para o sucesso das atividades que nos propomos a executar. Vejo que muitas vezes recursos são gastos com iniciativas - UOs, palestras, cursos - que são sim muito importantes, mas que o objetivo maior é a sensibilização. A continuidade - essa sim firma, consolida, agrega valor ao nosso trabalho e é capaz de mudar ou melhorar uma realidade. Enquanto Embrapa, e estando na TT, é importante sim que nós façamos a sensibilização - mas que estejamos envolvidos também em trabalhos de continuidade, enquanto instigadores, motivadores.

     

    Também acho muito importante o ressaltado pelo Teófilo - o que o produtor quer? o que o técnico quer? Aliás, quando pensamos em produtores, técnicos da extensão.... qual a realidade deles? Será que, enquanto Embrapa, sabemos mesmo a realidade do dia-a-dia que essas pessoas enfrentam? Por isso acredito ser fundamental essa premissa da TT de levantamento de demandas - mas não sob o nosso ponto de vista, e sim sob a ótica de todos os envolvidos na cadeia produtiva, todos os elas desta. Penso que é importante também trabalharmos focado na realidade de cada região, atender suas demandas, até mesmo para a realização de palestras, eventos - porque o resultado é muito mais interessante.

     

    E, enquanto avaliação, é um desafio a ser enfrentado. Para o nosso trabalho, não podemos nunca nos esquecer do levantamento de demandas (ouvir, ouvir, ouvir), entendimento da realidade e entrega das soluções que o SETOR produtivo nos pede - e não o que a nossa curiosidade, o nosso ponto de vista e a nossa realidade nos diz.

     

    Vamos continuar a discussão! Obrigada!

  • Oi Fernanda,

    Esse assunto me provoca desde a faculdade,e olha que já são trinta anos de formado!!! Penso que a relação dos técnicos com os produtores, é semelhante a da hierarquia de nossos órgãos , os de cima não ouvem os de baixo, e vice versa. O que na maioria das vezes queremos para os produtores, é desejo nosso e não deles. Esquecemos que por detrás de um produtor, técnico,ou pesquisador, existe uma criança, ás vezes birrenta, invejosa,competitiva ou não,medrosa, etc.Devemos sempre nos perguntar, o que quero do outro, o que o outro quer de mim ?.As coisas não são como aparentam.Como diminuir a distancia que vivemos um do outro? Conversa, muita conversa.Quem nos disse que o seu fulano quer aumentar a produção? Ele quer viver na terra ou esse é um desejo do técnico? Cá no sertão de Minas, meu filho perguntou ao filho do vaqueiro, de doze anos, se gostaria de ter a profissão do pai, ele respondeu que quer ser biólogo marinho!!! E olha que nunca nem viu o mar ,rsrsrsrs. Precisamos nos instrumentalizar mais de Paulo Freire, Rubem Alves, e beber também na fonte de Freud, que apesar de já antigo, muitos ainda não o conhecem.Muito bom falar pra pessoas com a sua preocupação. Abraços, Teófilo

     

  • Fernanda, acredito que a programas de TT tenham que ser implantados de forma continuada. Uma palestra ou dia de campo, isoladamente, muitas vezes não é tão eficiente no meu ponto de vista. É como assistência técnica, o desenvolvimento de um projeto depende, antes de tudo, na confiança entre as partes conquistada ao longo do tempo. Um evento de TT isolado pode funcionar como um start, despertar a curiosidade e, quem sabe, uma tomada de decisão. Inseridos na base da cadeia, os produtores são assediados diariamente por uma diversidade de empresas com várias tecnologias em potencial, sem uma acessoria técnica muitas vezes eles tomam decisões erradas com graves consequências. Por outro lado, se o processo de TT for via técnico, é necessário que o mesmo se atualize constantemente, o que não ocorre na maioria das vezes. O processo de capacitação continuada é na minha opinião o mais interessante, sendo importante a participação de instituições como o MAPA, Embrapa e universidades. A avaliação do sucesso está relacionada justamente com um ponto importante citado por você, a alteração do ambiente produtivo, de fórma sólida e estruturada, em outras palavras, de forma sustentável com base em quatro princípios: benefícios sociais, econômicos, respeito ambiental e por fim, bem estar animal. Concluindo, os processos de TT devem contemplar os sistemas em sua estrutura mais ampla, com uma abordagem macro de todo o processo produtivo, respeitando o perfil das propriedades e vocação de seus gestores.

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